Monday, March 17, 2008

Quem ama não trai.


Quando abri o portão, foi o primeiro que vi. Como se tivesse esperado o dia inteiro por este momento morrendo de saudades, me encheu de beijos. Ele é grande, é verdade, mas nosso abraço sempre se encaixa perfeitamente. Agora só se ocupava de mim e de nada mais. Deixou tudo o que fazia de importante (ou não) para me receber com toda a alegria do mundo. Eu estava imunda, acabara de voltar de um futebol, mas nem meu suor o impediu de continuar com seus carinhos. Eram recíprocos, claro, mas eu sabia o que estava fazendo. Chamei-o, com jeitinho, para caminhar. Andamos, mas só ele estava inquieto. Estava feliz na companhia de quem amava. Eu também estava, mas sabia que aquilo não iria acabar bem e que caminhávamos em direção a sua casa. Ele não notava, só curtia o momento. Paramos em frente ao seu portão. Então, ele entendeu. Entendeu que os carinhos que eu fazia tinham um propósito. A reciprocidade não era à toa. Não falou nada. Emudeceu totalmente. Não chorava, não gemia. Só ficou quieto. Virou uma estátua de pedra completamente irremovível. Não queria entrar, estava chocado, decepcionado, tristíssimo. Traí sua confiança de modo frio, seco. Me senti Escariotes. Se lhe desse um beijo, logo depois, teria de me enforcar.
Com muito esforço, puxei-o pela coleira pra dentro de sua casa. Seu rosto divididinho pelas grades parecia querer se debulhar em lágrimas. Suas orelhas se abaixaram, mas não fazia som algum. O que mais me incomodava era olhar para aquele monte de pêlos negros tristes. Na mesma hora, entendi o que seus olhinhos, que nada mudaram desde que era um filhote, queriam dizer: "É nisso o que dá ser o melhor amigo do homem."

Monday, March 03, 2008

E no concurso público...


Vai ver as pessoas tinham toda a razão: passar num concurso de pouquíssimas vagas e que garante um salário muito bom para o resto de suas vidas requer muita, MUITA preocupação. E nem foi só pelo fato de apenas eu não possuir esse sintoma que me fez chegar à conclusão de que não passaria, foi exatamente no começo da prova, na parte de "Conhecimentos Complementares"que notei tal coisa porque eu não saberia julgar C ou E o trecho "Se a 1 Turma do TJDFT, ao analisar habeas corpus impetrado em favor de paciente preso, decidir conceder a medida, a exeqüibilidade da decisão dependerá da elaboração do acórdão". É que fiquei na dúvida se era português tudo aquilo que estava escrito. Mas enfim, depois disso, resolvi esquecer aquilo e começar um profundo estudo antropológico sobre o comportamento dos concurseiros. Os observei atentamente, percebendo os tiques nervosos de alguns, a obsessão em se olhar o relógio de outros e a intensa concentração da maioria, que nem parecia estar ouvindo a irritante tosse de uma candidata que se sentava ao fundo. Também havia os que pediam para ir ao banheiro e voltavam tão rápido que eu chegava a imaginar se haviam se esquecido de lavar as mãos. Ou, pelo menos, se lavar as mãos foi só o que conseguiram fazer com tão poucos segundos. E o tempo corria e, a cada minuto que se passava, acontecia algo extremamente grandioso como uma pequena borboleta entrar na sala ou o carro da pamonha passar anunciando o preço do milho cozido e meu Deus, como estava barato! Mas, óbvio que só eu percebia essas coisas. Eles estavam ocupados demais pensando nos Regimentos Internos, na Lei 9.784/1999, nessas bobagens do dia-a-dia.
Mas eis que eu encontrei a matemática na prova! Foi como encontrar um chocolate perdido dentro de sua bolsa em um dia de abstinência de doce. Depois de um ano sem números, eu finalmente resolveria equações de segundo grau, problemas de lógica e juros compostos! Como é linda a matemática financeira! Agora eu entendia o resto dos candidatos e já não ouvia nada, nem mesmo continuava a sentir o pé da moça que se sentava atrás de mim batendo na minha cadeira com uma freqüência imutável. Quando me dei conta, eu havia preenchido 80 dos 120 itens e já começava a ficar preocupada com o tempo, pois faltavam apenas 30 minutos para o término e eu ainda deveria começar a chutar o resto das questões de direito. E muitas emendas, leis e exeqüibilidades (tá, ainda não sei o que é isso) depois, a prova se acabou. Eu ainda estava morrendo de rir com meus chutes e raciocínios ridículos (causando, claro, um estranhamento por parte dos vigias por ser a única candidata que ria) quando anunciaram que a recolheriam. Entreguei meus papéis, triste por ter de ir embora daquele lugar tão divertido. Foram quatro horas e meia de pura alegria. Eu sabia que muitos tentam concursos por anos e anos, mas não entendia o porquê. Definitivamente, agora o sei. Mas, falando nisso, quando é o próximo concurso mesmo? Tô brincando, minha gente! Tô brincando!